Blog

Acompanhe nossas novidades e dicas de saúde.

Disfunções da Tireoide na Gravidez

fev 12, 2020 | Artigos, Conteúdo para pacientes, Tireoide, Tratamentos

Para falarmos sobre problemas da tireoide na gravidez, é importante conhecermos um pouco sobre esta estrutura. A tireoide é uma glândula localizada na região anterior do pescoço, logo abaixo do pomo de adão. Ela é regulada por outra glândula, a hipófise, através do hormônio TSH e é  responsável pela liberação dos hormônios T3 e T4, que regulam as funções de órgãos como o coração, o cérebro, o fígado e os rins.

Os hormônios tireoidianos T3 e T4 também possuem função importante durante a gestação no desenvolvimento neurológico do feto. No entanto, a tireoide fetal é capaz de secretar os hormônios T3 e T4 apenas por volta da  vigésima semana de gestação. Até lá, é a glândula da mãe que supre as necessidades de ambos, o que provoca mudanças importantes na função e no tamanho da tireoide na gravidez.

“As mudanças no corpo da mãe e a necessidade de produzir mais hormônios podem levar à algumas disfunções relacionadas ao excesso de hormônio (hipertireoidismo) ou à falta dele (hipotireoidismo). Outras disfunções como o surgimento de nódulos e câncer são mais raras. Nestes dois últimos casos, se houver necessidade de tratamento cirúrgico, o procedimento geralmente é realizado após o nascimento do bebê.” – Dra. Maria Isabel Vieira Cordioli, Médica Endocrinologista (CRM/SC 14.274).

Disfunções da Tireoide

Na gravidez, a tireoide pode sofrer com diminuição ou excesso de produção de hormônios. Estas condições podem ser:

Doenças Subclínicas 

Quando ocorre diminuição ou aumento do hormônio TSH, produzido pela glândula hipófise e responsável por controlar o funcionamento  da tireoide, sem alteração nos níveis sanguíneos de T3 e T4. Geralmente, os pacientes não apresentam nenhum sintoma relacionado à tireoide. No entanto, alguns estudos sugerem que, em gestantes ,as condições subclínicas podem provocar efeitos adversos, tanto na gestação, quanto no feto.  

Doenças Clínicas 

Nessas situações, além de alterações no TSH, tem-se também a diminuição (hipotireoidismo) ou o excesso (tireotoxicose) de hormônios tireoidianos (T3 e/ou T4).

Hipotireoidismo na Gravidez

O hipotireoidismo é a disfunção mais comum da tireoide na gravidez. O hipotireoidismo clínico, caracterizado pela redução dos níveis dos hormônios T3 e T4 propriamente ditos, pode ter repercussões tanto para a saúde da mãe quanto para o desenvolvimento do bebê. 

“A falta dos hormônios tireoidianos pode provocar restrição de crescimento, alterações no sistema nervoso central e déficits cognitivos nos bebês. Além disso, as mães com essa condição têm maiores chances de sofrerem abortos, doenças hipertensivas, como a pré-eclâmpsia, e hemorragias pós-parto, por exemplo.” – Dra. Maria Isabel Vieira Cordioli, Médica Endocrinologista (CRM/SC 14.274).

Na maior parte das vezes, as mulheres que apresentam hipotireoidismo na gravidez já possuíam alterações na função tireoidiana antes da gestação.

Hipertireoidismo na Gravidez

Assim como no hipotireoidismo, o excesso de hormônios da tireoide na gravidez (tireotoxicose), causado principalmente pelo aumento da  produção hormonal (hipertireoidismo), também pode ter repercussões para a saúde da mãe e do bebê. Quando não tratado, o hipertireoidismo pode provocar:

  • Problemas de crescimento para o bebê;
  • Parto prematuro;
  • Problemas de pressão para a mãe;
  • Deslocamento de placenta;
  • Insuficiência cardíaca para a mãe;
  • Aborto. 

“Muitas vezes, alguns dos sintomas decorrentes do excesso de hormônio tireoidiano na gravidez são confundidos com as alterações naturais que acontecem no corpo da mulher durante esse período. Entre elas, podemos citar: cansaço, ansiedade, taquicardia, calor e suor em excesso, náuseas e vômitos.” – Dra. Maria Isabel Vieira Cordioli, Médica Endocrinologista (CRM/SC 14.274).

Diagnóstico

Tanto o hipotireoidismo quanto o hipertireoidismo podem ser diagnosticados durante o pré-natal, através de exames de sangue. Para rastreio dessas condições, são avaliados os índices de TSH no sangue. Esta avaliação é especialmente importante no caso de mulheres:

  • Acima dos 30 anos;
  • Que vivem em áreas carentes de Iodo;
  • Com histórico de problemas na tireoide;
  • Que passaram por terapia de radiação na região da cabeça e pescoço (uma vez que esta terapia pode alterar a função da glândula);
  • Com histórico de aborto recorrente, infertilidade e alterações em exames físicos como o aumento de volume da tireoide (bócio);
  • Que usam algumas medicações de uso contínuo, como antiarrítmicos (amiodarona) e remédios psiquiátricos (carbonato de lítio);

A quantidade acima do normal do hormônio estimulador da tireoide (TSH) pode significar o baixo funcionamento da tireoide. Nesses casos, a hipófise precisaria produzir mais TSH para tentar fazer a tireoide funcionar normalmente. 

Já níveis baixos de TSH podem significar excesso de produção de hormônios tireoidianos. Quando isso acontece, a hipófise reduz a produção de TSH para tentar controlar os níveis elevados de T3 e T4 no sangue.

Em casos positivos de disfunções na tireoide, o tratamento deve ser iniciado sob supervisão médica e os exames de sangue devem ser repetidos em intervalos de 4 a 8 semanas.

“Nem sempre valores reduzidos de TSH em gestantes indicam doença da tireoide. Algumas mudanças hormonais que ocorrem especialmente no início da gestação podem fazer com que isso aconteça de forma natural. É o caso do aumento do hormônio HCG, que ocorre no início da gestação. O HCG possui uma estrutura muito similar ao TSH e também pode estimular a tireoide. Nesse caso, pode haver uma redução transitória nos valores de TSH (já que a tireoide já está sendo estimulada pelo HCG).” – Dra. Maria Isabel Vieira Cordioli, Endocrinologista (CRM/SC 14.274). 

Tratamento da Tireoide na Gravidez

Nos casos de hipotireoidismo, o tratamento para mulheres grávidas e não grávidas é semelhante. Em ambos os casos, utiliza-se a Levotiroxina, forma sintética do principal hormônio da tireoide (T4). A diferença no tratamento está na posologia, já que em gestantes utilizam-se doses maiores de Levotiroxina. Além disso, os exames de controle devem ser realizados mais frequententemente pela possibilidade de ajuste periódico, especialmente nas primeiras vinte semanas de gestação.

Já nos casos de hipertireoidismo, o tratamento em gestantes apresenta algumas particularidades. Nesse grupo de pacientes, evita-se abordagens cirúrgicas da tireoide e o tratamento com iodo radioativo é contra-indicado. Além disso, a escolha do tratamento medicamentoso deve levar em consideração o risco de efeito adverso no feto (teratogenicidade). 

“No hipertireoidismo, algumas opções de tratamento que são realizadas em não gestantes não podem ser realizadas durante a gravidez, por conta dos riscos cirúrgicos e de malformação do feto. Dessa forma, especialmente no primeiro trimestre de gestação, opta-se pela medicação Propiltiouracil, associada a menor risco para o feto. A partir do segundo trimestre, sempre sob avaliação médica, a paciente pode utilizar a medicação mais comumente utilizada nessa situação, o Tapazol.” – Dra. Maria Isabel Vieira Cordioli, Médica Endocrinologista (CRM/SC 14.274).      

Após dar à luz, as disfunções da tireoide na gravidez devem ser reavaliadas. Em alguns casos, as gestantes voltam a condição normal. Em outros, o tratamento deve continuar, com os devidos ajustes nas doses das medicações quando houver necessidade.

Cuide da sua saúde e do seu bebê! Em caso de disfunções da tireoide na gravidez, procure um Médico Endocrinologista. Os profissionais do Núcleo de Cirurgia de Cabeça e Pescoço podem lhe ajudar. Conte conosco!

Sobre a autora:

Dra. Maria Isabel Cunha Vieira Cordioli, Médica Endocrinologia (CRM/SC 14.274):

  • Graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2007.
  • Residência Médica em Clínica Médica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 2008-2010.
  • Residência Médica em Endocrinologia e Metabologia  pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – ISCMSP, 2010-2012.
  • Doutora em Endocrinologia Clínica pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina – UNIFESP/EPM, em 2012-2016.